terça-feira, 30 de junho de 2009

Dois "memes" em um!...


MEMES





Mais dois “memes” que chegaram ao nosso Farol através da amiga Carmen, de “Un Rincón del Mediterraneo” - http://unrincondelmediterraneo.blogspot.com/

Argos e Tétis aceitaram o desafio de responderem, em simultâneo, a este “meme” duplo e por isso o título que demos a este post “Dois memes em um”.

As regras a seguir são:

1- Coge un libro que tengas cerca = Pega num livro que tenhas à mão
2- Abrelo por la pagina 161 = Abre-o na página 161
3- Busca la 5ªfrase (completa) = Procura a 5ª frase (completa)
4- Cita la frase en el blog = Cita a frase no blog
5- Pasarlo a otros cinco blogs = Passa o meme a outros 5 blogs.

O livro de Argos:
“Platero e Eu”, de Juan Ramón Jiménez

Confidencias de um rapaz ao seu burrinho de estimação… O “eu menino” que nós adultos tentamos sepultar no mais fundo da nossa alma.
Um livro em prosa que é um poema de vida.

Página 161, 5ª frase:

“E agora, no fundo deste aparte da vida, sente-se como que um grande coração pleno e salutar, o sonho de todos, vivo e mágico.”

O livro de Tétis:
"O Claustro do Silêncio", de Luís Rosa

Romance galardoado com o Prémio Vergílio Ferreira, recria a história de Portugal, numa época que decorre desde o final das Invasões Francesas até à extinção do império cisterciense, aqui personificado pelo Mosteiro de Alcobaça, por entre as revoltas populares e as lutas entre liberais e miguelistas.
Até nós chegam os ecos que percorrem as abóbadas dos claustros de um mosteiro onde também ressoa o cantochão e onde os amantes Pedro e Inês se encontram reunidos até ao fim dos tempos.

Página 161, 5ª frase:

"O padre Rufino não estava vestido com a sua capa longa de golas levantadas, que escondia o bacamarte e o cobria a ele e à montada. Não. Estava a pé, com a sua batina negra, de pastor de almas, e o modo beatífico com que rezava missa e encomendava os defuntos. Compreendo. Compreendi-o a ele e compreendi o que me ligava àquele destino. Não havia tempo para demoras. Ouvia-se a espaços o troar de canhões para o lado de Leiria. A impaciência de todos urgia o destino. Talvez uma sangueira fosse ainda o acabar daquele dia."


Tal como fez Carmen, também não vamos passar estes “memes” a cinco blogs, mas deixá-los para os corajosos que queiram, como nós, aceitar este desafio.
São memes divertidos, fáceis de fazer e será uma forma agradável de partilharmos com os nossos amigos as leituras que andamos a fazer.

Atreve-te!...

segunda-feira, 29 de junho de 2009

"Prémio Blog Coração de Ouro"


“Um Farol chamado Amizade” agradece reconhecido mais este prémio atribuído pela querida amiga Isa do blog “Momentos Meus” - http://isa-momentosmeus.blogspot.com

As regras a seguir são:
- Expor o prémio em local visível no vosso blog
- Indicar qual o blog que o concedeu
- Premiar outros 10 blogs
- Avisar os respectivos “blogueiros” dos blogs premiados.


Como já vai sendo nosso hábito (e pedindo que não nos levem a mal…), vamos infringir um pouco as regras quanto à atribuição deste prémio. Assim e porque todos têm um “Coração de Ouro”, decidimos atribui este prémio a todos os nossos seguidores, a quem pedimos que o venham recolher e colocar nos seus respectivos blogs.


Parabéns a todos os nossos seguidores pelo prémio e pela Amizade que sempre nos têm demonstrado.

sábado, 27 de junho de 2009

León Tolstoi



León Tolstoi (1828-1910): Fue un gran novelista ruso, profundo pensador social y moral, y uno de los más grandes autores del realismo de todos los tiempos.


“El que ha conocido sólo a su mujer y la ha amado, sabe más de mujeres que el que ha conocido mil.”


Y tu que opinas de esta frase de León Tolstoi ?








Solamente una vez

(Agustin Lara)

Solamente una vez Amé en la vida
Solamente una vez
Y nada más
Una vez nada más en mi huerto
Brilló la esperanza
La esperanza que alumbra el camino de me soledad

Una vez nada más
Se entrega el alma
Con la dulce y total Renunciación
Y cuando ese milagro realiza
El prodigio de amarse
Hay campana de fiesta que cantan en el corazón

Una vez nada más...


Y cuando ese milagro realiza
El prodigio de amarse
Hay campana de fiesta que cantan en el corazón

Crees que solo se ama una vez en la vida ?

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Um adeus a Michael Jackson

Michael Jackson, ícone de várias gerações, um dos maiores astros da música pop, morreu ontem aos 50 anos de idade.

Embora, pela sua postura e maneira de estar, sejamos levados a crer que a vida de Michael Jackson não se enquadrava neste mundo, a sua imagem e a sua obra permanecerão para sempre na nossa memória.

Em sua homenagem deixamos um vídeo que nos mostra Jackson em vários momentos, tendo como som de fundo uma sua canção com uma letra bem sugestiva: "I’ll be there".



Vídeo escolhido pelo nosso amigo do Brasil, Carlos Marley

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Um Justo

14 de Junho de 1940 – Paris é ocupado por tropas nazis.
15 de Junho de 1940 – O governo francês instala-se em Bordéus e com ele deslocam-se nada menos que 60 embaixadas de países estrangeiros e seus funcionários.
Com a invasão alemã, o sudoeste de França é invadido por milhares e milhares de refugiados constituídos por anti nazis, por judeus e de um modo geral por todos aqueles que temiam a guerra.
A desordem é total e para toda aquela gente que se dirige a Bordéus só há uma porta para a salvação – A Península Ibérica – donde poderiam atingir facilmente o continente americano.

Mas…

- A Espanha não aceita refugiados, ou melhor, não pode aceitar refugiados pois acabou de sair de uma guerra civil que lhe custou meio milhão de vidas e para além disso o general Franco nutre simpatia por Hitler.
- Portugal, governado por Salazar (com mais simpatia por Mussolini que por Hitler), tenta manter a neutralidade e prevendo o avanço das tropas alemãs e a afluência de refugiados manda para todos os consulados portugueses a célebre “Circular 14” que proíbe dar vistos, excepto a pessoas que fossem portadoras de um bilhete para as Américas, e mesmo assim, só com a autorização prévia do Ministério dos Negócios Estrangeiros.

Imaginem…

O Cônsul de Portugal em Bordéus que assiste a toda aquela calamidade sem poder fazer nada.

Sem poder fazer nada?

Depois de vários dias de cama acometido de espasmos nervosos e febre, esse Cônsul toma a decisão de ir contra as regras e passar vistos a todos quantos necessitem.
O consulado português é assim “invadido” por milhares de refugiados e o diplomata não tem sequer tempo para dormir (durante três dias), para assinar o máximo de vistos possível. Depois, desloca-se a Bayonne e nessa cidade, chega a colocar uma mesa do consulado na rua para facilitar a assinatura dos vistos.

Mais vistos são dados também nas fronteiras dentro e fora das horas de expediente.
Todo este trabalho deixa o Cônsul extenuado mas salva milhares de refugiados, um terço dos quais judeus.
Como resultado da sua desobediência é obrigado a regressar a Portugal, castigado e afastado da carreira diplomática. Os seus filhos, 14 filhos perseguidos e não podendo encontrar trabalho em Portugal são obrigados a emigrar.
Morre a 3 de Abril de 1954, desiludido pobre e sozinho, ostracizado pelos seus colegas, amigos e alguns familiares.


De quem falamos?


De Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches (mais conhecido por Aristides de Sousa Mendes), nascido em 19 de Julho de 1885 em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, no seio de uma família aristocrática.
Cursou direito na universidade de Coimbra e em 1910 ingressa na carreira consular até 1940…

A “reabilitação” de Aristides de Sousa Mendes começou em 1961, quando foi plantada uma árvore na Álea dos Justos, em Jerusalém. Mas a primeira cerimónia oficial a Aristides, pelas autoridades de Portugal, só aconteceu em 1987 na embaixada de Portugal em Washington. Nesse dia, o então presidente da Republica Portuguesa, Mário Soares, condecorou o Cônsul, a titulo póstumo, com a Ordem da Liberdade.
Depois disso e com o passar dos anos a memória de Aristides de Sousa Mendes foi "reabilitada" e as homenagens sucedem-se até hoje.
Mas seria preciso "ilibar"alguém que disse:

“Prezo-me de ter recebido de meus pais um nome limpo e honrado, que me cumpre manter e transmitir aos meus filhos íntegro como o herdei”

Alguém que salvou milhares de vidas humanas?

“Quem salva uma vida humana é como se salvasse o mundo inteiro”
(inscrição do Talmude numa medalha entregue à família de Aristides de Sousa Mendes em 1967).

terça-feira, 23 de junho de 2009

O São João do Porto


O São João do Porto é uma festa popular, de origem pagã, que tem lugar de 23 para 24 de Junho na cidade do Porto, em Portugal.


O dia 24 de Junho foi consagrado a São João Baptista, por ser a data do seu nascimento, sendo dos santos populares aquele que mais se festeja na Europa. Mas, apesar de ser o padroeiro de muitas terras portuguesas, na noite de São João, a cidade do Porto é a que mais o festeja!

O S. João do Porto é uma grande manifestação do povo, eminentemente festiva, de puro cariz popular e que dura toda uma noite, com uma cidade inteira na rua, em alegre e fraterno convívio colectivo.

Sendo uma festa cheia de tradições, nas ruas, os foliões passeiam o alho-porro, os martelos de plástico que utilizam para bater nas cabeças das pessoas que passam, compram manjericos e comem sardinha assada e caldo verde nas ruas e nas tasquinhas que predominam por toda a cidade. Há o lançamento de balões de ar quente, confeccionados com papéis de várias cores que passeiam no ar iluminados sob o impulso do fumo e o calor de uma chama que consome uma mecha de petróleo ou resina.

Tudo começa na Ribeira com o monumental fogo de artifício, todos os anos à meia-noite junto ao Rio Douro e à Ponte D. Luís I, fogo este que tem a particularidade de decorrer no meio do rio em barcos especialmente preparados, sendo acompanhado por música, num espectáculo multimédia muito belo e colorido.

A festa espalha-se depois por toda a cidade e só termina ao nascer do sol. Nas ruas mais centrais que, nessa noite se encontram apinhadas de gente, aparecem à venda as “ervas santas” e plantas aromáticas, sobretudo o manjerico, a planta símbolo por excelência desta festa, o alho-porro, os cravos e a erva-cidreira.

Existem, ainda, os saltos sobre as fogueiras espalhadas pela cidade, os bailaricos nos bairros mais tradicionais e os vasos de manjericos com versos populares que fazem as delícias dos milhares de residentes e visitantes que chegam de todo o mundo para assistir aos festejos.

Os vários arraiais populares são mais famosos nos bairros tradicionais como Fontainhas, Miragaia, Massarelos, entre outros, tendo mais animação e brilho durante a noite.

A festa tem como ponto de honra as “Cascatas S. Joaninas”, que servem de disputa entre freguesias e bairros num concursos de beleza e homenagem a São João.. Tratam-se de altares onde é colocada a imagem do Santo, com o seu inseparável carneirinho, e um sem fim de elementos que simbolizam o arraial.

A festa dura até de madrugada e manda a tradição que culmine num banho de mar na Foz do Douro. Aí, na praia, aguarda-se pelo nascer do sol.


segunda-feira, 22 de junho de 2009

"Meme Volar"


Este “meme” chegou até ao nosso Farol, a bordo do barquinho de amizade da nossa amiga Carmen do Blog “Un Rincón del Mediterraneo” (http://unrincondelmediterraneo.blogspot.com/).
Muito obrigado por se ter lembrado de nós!

As regras deste “meme” são as seguintes:

1-Responder ás perguntas no teu blog.
2-Trocar uma pergunta que não gostes, por outra inventada por ti.
3-Acrescentar uma pergunta concebida por ti.
4-Passar o “meme”a oito blogs.

Mas nós, à semelhança da Carmen, alteramos um bocadinho as regras e em vez de o passarmos a oito blogs, deixamo-lo aqui para quem o quiser levar e divertir-se!
Desde já o nosso agradecimento a todos os que quiserem participar.


As minhas Respostas…


1-Um lugar para relaxar.
Uma praia ao entardecer.
2-Dormes a sesta?
Só “coagido”!
3-Quem foi a última pessoa que abraçaste?
A minha mãe.
4-Animal de estimação?
Um gatito.
5-A última coisa que compraste.
Um livro.
6-Neste momento o que ouves?
Os gritos das gaivotas sobrepondo-se a “”Sunrise over the Wicklow Mountains”.
7-A tua estação de ano favorita.
O Verão, adoro o sol e o calor.
8-Que tens em cima da secretária?
O computador, impressora, livros, CD’s…
9-O que dirias à pessoa que te passou o “meme”?
Diria obrigado e dava-lhe um abraço por se ter lembrado de mim.
10-Se pudesses ter uma casa mobilada em qualquer parte do mundo…onde gostarias que fosse?
Não trocava a minha casa, este é o meu lar!
11-Local de férias favorito.
A casa da minha avó.
12-Qual é o teu chá predilecto?
Só tomo chá quando estou doente!
13-De que é que gostarias de te libertar?
Dos preconceitos.
14-Em criança, o que sonhavas ser quando crescesses?
Bibliotecário.
15-A pergunta da Carmen: ¿Que opinas de los memes en general?
Quase todos são divertidos, mas alguns fazem-nos reflectir em pequenas coisas que não damos importância!

A minha pergunta….Quando foi a última vez que tiraste um “tempinho” para estares a sós contigo?

Nota: O primeiro “meme” foi respondido por Poseidón, desta vez a tarefa coube ao Argos, o próximo será da Tétis!

Um abraço a todos vocês

Amizade

sábado, 20 de junho de 2009

Os Poetas do Parque

Fernando Pessoa (1888-1935)
Parte 4

Continuamos com os nossos passeios pelo Parque dos Poetas, ainda na companhia de Fernando Pessoa, mas desta vez com o heterónimo Ricardo Reis.


Fernando Pessoa, tal como fez com os outros heterónimos, criou para Ricardo Reis uma biografia completa e um mapa astral.
De acordo com uma carta de Pessoa a João Simões, o poeta começou a esboçar o heterónimo Ricardo Reis em 1912 quando lhe veio “à ideia escrever uns poemas de índole pagã”, mas seria apenas em 1914 que, “oficialmente”, ele surgiu para completar o trio Alberto Caeiro, Álvaro de Campos e Ricardo Reis.

Assim, o poeta Ricardo Reis teria nascido no Porto no dia 19 de Setembro de 1887.
Era moreno, de estatura média, mais baixo e mais forte que Caeiro, andava curvado, era magro e tinha a aparência de um judeu português.
Foi educado num colégio de Jesuítas onde recebeu uma sólida educação clássica e latinista, tendo-se formado mais tarde em Medicina.
Abraçava a causa monárquica, tendo por isso de se exilar no Brasil em 1919, após a derrota da rebelião monárquica do Porto contra o regime instaurado em 1910.

Seguidor de Caeiro, como Pessoa e Álvaro de Campos, Ricardo Reis apresenta, contudo, uma poesia muito diferente destes poetas. A sua educação está imbuída de princípios conservadores que são transportados para a sua concepção poética.
Ricardo Reis é marcado por uma profunda simplicidade da concepção da vida, por uma intensa serenidade na aceitação da relatividade de todas as coisas. É adepto do sensacionalismo, que herda do mestre Alberto Caeiro, mas ao aproximá-lo do neoclassicismo manifesta-o num plano distinto. Como refere Fernando Pessoa em “Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação”: “Caeiro tem uma disciplina: as coisas devem ser sentidas tais como são. Ricardo Reis tem outra disciplina diferente: as coisas devem ser sentidas, não só como são, mas também de modo a integrarem-se num certo ideal de medida e regras clássicas.”
À grande questão da indagação do sentido da existência, colocada de forma diversa por cada um dos heterónimos, Ricardo Reis responde com a procura do mais alto, amando o impossível até, procurando como fugir ou fingir de uma realidade terrena que verdadeiramente queria viver eternamente, mas sabe e aceita que a efemeridade é parte da condição humana, que na vida tudo passa e sobre cada momento vivido pesa a sombra da caminhada implacável do Tempo. Para enfrentar esse medo da morte e à semelhança de Caeiro, aceita a ordem das coisas e faz o elogio da vida campestre, indiferente ao social.
Assim, introduz nas suas odes, pastoras como Lídia, Neera ou Cloé para desfrutar de prazeres contemplativos e regrados:


"Prazer, mas devagar, Lídia, que a sorte àqueles
não é grata
Que lhe das mãos arrancam.
Furtivos, retiremos do horto mundo
Os deprendandos pomos.”

“Olho os campos, Neera
Verdes campos, e sinto
Como virá um dia
Em que não mais os veja(…)”

“Não quero, Cloé, teu amor, que oprime
Porque me exige o amor. Quero ser livre.
A esperança é um dever do sentimento.”

Assume o paganismo e utiliza frequentemente elementos mitológicos nos seus poemas. As odes de Ricardo Reis, como as de Píndaro, recorrem sempre aos deuses da mitologia grega. Este paganismo, de carácter erudito, afasta-se da convicção de Alberto Caeiro de que não se deve pensar em Deus. Mas para Ricardo Reis os deuses estão acima de tudo e controlam o destino dos homens:

"Acima da verdade estão os deuses.
Nossa ciência é uma falhada cópia
Da certeza com que eles
Sabem que há o Universo(…)”

Faz dos Gregos o modelo da sabedoria (aceitação fatalista do Destino de uma forma resignada, mas digna e altiva) e do poeta latino Horácio o modelo poético.
Reflecte sobre o fluir do Tempo: tem consciência da dor provocada pela natureza precária do homem, do medo da velhice e da morte.

“De uma só vez recolhe
Quantas flores puderes.
Não dura mais que até à morte o dia(…)
(…)A vida é pouco e cerca-a
A sombra e o sem remédio(…)
(…)Goza este dia como
Se a Vida fosse nele(…)”

Elogia e aplaude o epicurismo e o estoicismo, ou seja, a sabedoria que consiste na aceitação da condição humana, através da disciplina e da razão, em gozar, em viver o momento presente, evitando o sofrimento e aceitando o carácter efémero da vida - o “carpe diem” e o “locus amoenus”.

“Coroai-me de rosas!
Coroai-me em verdade
De rosas!
Quero toda a vida
Feita desta hora
Breve.
Coroai-me de rosas
E de folhas de hera,
E basta!”

“Quer pouco: terás tudo.
Quer nada: serás livre.
O mesmo amor que tenham
Por nós, quer-nos, oprime-nos”

Neoclássico, Ricardo Reis busca o equilíbrio, a "Aurea Mediocritas" (equilíbrio de ouro) tão prezada pelos poetas do século XVIII. A simplicidade de Caeiro deixa de ser natural em Ricardo Reis e passa a ser estudada, forjada através do intelecto:

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim como em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive."

A sua formação clássica reflecte-se, quer a nível formal, quer a nível dos temas por si tratados e da própria linguagem utilizada, com um purismo que Pessoa considerava exagerado.

A linguagem de Ricardo Reis é clássica, culta, esmerada e sentenciosa, utiliza frequentemente latinismos e o verso branco. Usa um vocabulário erudito e, muito apropriadamente, seus poemas são metrificados e apresentam uma sintaxe rebuscada. Os poemas de Reis são odes, poemas líricos de tom alegre e entusiástico, cantados pelos gregos, ao som de cítaras ou flautas, em estrofes regulares e variáveis.

Assim, poderemos resumir as suas principais características estilísticas a uma submissão da expressão ao conteúdo, ou seja, a uma ideia perfeita corresponde uma expressão perfeita, à utilização de estrofes regulares em verso decassílabo alternadas, ao verso branco, ao recurso frequente à assonância, à rima interior e à aliteração, ao uso frequente do hipérbato, do gerúndio e do imperativo, à utilização de latinismos, metáforas, comparações, em suma, um estilo muito denso e construído com muito rigor.

“Vive sem horas. Quanto mede pesa,
E quanto pensas mede(…)
(…)Assim teus dias vê(…)”

Para Ricardo Reis a vida deve ser conduzida com calculismo e frieza, alheia a tudo o que a possa agitar. Mas como tudo o que é verdadeiramente humano é forte e perturbante, pelo que o poeta se isola, numa espécie de “cárcere dourado” que o protege de qualquer envolvimento social, moral ou mesmo sentimental, mantendo-o numa filosofia de vida terrivelmente vazia. Esta maneira de encarar a vida vai, como vimos, condicionar a sua poesia que apresenta como principais características temáticas o Epicurismo (procura do viver do prazer), o Estoicismo (crença de que o Homem é insensível a todos os males físicos e morais), o Horacionismo (seguidor literário de Horácio), o Paganismo (crença em vários deuses) e o Neoclassicismo (devido à sua educação clássica e aos estudos sobre Roma e Grécia antigas).

“De Apolo o carro rodou pra fora
Da vista(…)
(…)A flauta calma de Pã(…)”

“Vós que, crentes em Cristos e Marias
Turvais da minha fonte as claras águas
Só para me dizerdes
Que há águas de outra espécie(…)
(…)Deixai-me a Realidade do momento
E os meus deuses tranquilos e imediatos
Que não moram no vago
Mas nos campos e rios.
Deixai-me a vida ir-se pagãmente
Acompanhada plas avenas ténues
Com que os juncos das margens
Se confessam de Pã.
Vivei nos vossos sonhos e deixai-me
O altar imortal onde é meu culto(…)
(…)Ceres, dona dos campos, me console
E Apolo e Vénus, e Urano antigo
E os trovões, com o interesse
De irem da mão de Jove.”


Fernando Pessoa publicou, pela primeira vez, os poemas de Ricardo Reis (vinte odes) em 1924 na revista “Athena”. Depois, entre 1927 e 1930, foram publicadas oito odes na revista “Presença” de Coimbra. Os restantes poemas e a prosa de Ricardo Reis são de publicação póstuma.


Mais alguns poemas (completos):


Uns com os olhos postos no passado

Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem: outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro,
vêem O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto -
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
o dia, porque és ele.


Cada um cumpre o destino que lhe cumpre

Cada um cumpre o destino que lhe cumpre,
E deseja o destino que deseja;
Nem cumpre o que deseja,
Nem deseja o que cumpre.

Como as pedras na orla dos canteiros
O Fado nos dispõe, e ali ficamos;
Que a Sorte nos fez postos
Onde houvemos de sê-lo.

Não tenhamos melhor conhecimento
Do que nos coube que de que nos coube.
Cumpramos o que somos.
Nada mais nos é dado.


Prefiro rosas, meu amor, à pátria

Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.

Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe
Logo que eu fique o mesmo.

Que importa àquele a quem já nada importa
Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,

Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,
Que me aumentam na alma?

Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole
Na hora fugitiva.


Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e caricias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no
regaço.
Autores do post: Argos e Tétis

quinta-feira, 18 de junho de 2009

“Premio Internazionale UTOPIE CALABRESI”

Foi com muita alegria e emoção que recebemos este prémio do amigo Domenico Condito do blog "Utopie Calabresi", a quem agradecemos sensibilizados por mais esta distinção.

Transcreveremos, de seguida, o significado deste prémio e as respectivas normas a seguir por quem o receber.

"O Premio Internazionale UTOPIE CALABRESI inspira-se nos valores do Humanismo, entendendo-se por isso “tudo o que é digno do homem e o torna civilizado, elevando-o acima da barbarie”. Este “selo” foi criado com o objetivo de premiar os blogs que promovem conhecimento livre, cultura e arte, tolerância e aceitação da diferença, amizade e solidariedade entre os povos...

Quem recebe o Premio Internazionale UTOPIE CALABRESI e o aceita deve:

- visitar o blog UTOPIE CALABRESI, http://utopiecalabresi.blogspot.com/ ,

- clicar na imagem do prémio colocada na homepage e deixar um comentário sobre o Humanismo;

- escolher 5 outros blogs a quem entregar o prémio;

- linkar o blog pelo qual recebeu:

Um Farol chamado Amizade - http://nuestramizade.blogspot.com/

- exibir a distinta imagem.

Foi para nós muito difícil a selecção de apenas 5 blogs para atribuirmos este prémio, de acordo com as regras que Utopie Calabresi determinou e que, entendemos, não devíamos infringir. Por outro lado, como somos três pessoas a determinar quais os blogs a nomear e como "geograficamente" estamos distantes uns dos outros, a tarefa de chegar a um consenso, ainda mais complicada se tornou.

Dito isto e esperando a boa compreensão de todos aqueles que habitualmente nos visitam e a quem consideramos e gostamos por igual, passaremos a indicar os blogs aos quais decidimos atribuir este prémio.

Os blogs nomeados são (por ordem alfabética):

- Impulsos - http://calenturasfrescas.blogspot.com/

- Mi Pluma de Cristal - http://miplumadecristal.blogspot.com/

- Ortografia do Olhar - http://ortografiadoolhar.blogspot.com/

- Palabras - http://rosarioalonso.blogspot.com/

- Un Rincón del Mediterrâneo - http://unrincondelmediterraneo.blogspot.com/

E agora só nos resta saudar e felicitar os nomeados e agradecer uma vez mais a “Utopie Calabresi”.

Parabéns/Felicitaciones: XoseAntón, María, Graça, Rosario Alonso e Carmen!...

Grazie Domenico!...

Maestro José Calvário

Autor de “E Depois do Adeus” e “Flor sem Tempo”

Morreu o maestro José Calvário aos 58 anos

Lisboa – Morreu ontem em Oeiras o maestro José Calvário de 58 anos. O maestro e compositor, sofreu um enfarte em Novembro de 2008 e encontrava-se desde então em estado vegetativo.

José Calvário nasceu no Porto em 1951 e em 1957, deu o seu primeiro recital, no Conservatório de Música do Porto. Em 1961, com apenas dez anos, dirigiu o seu primeiro concerto à frente de uma orquestra filarmónica. Na Suíça, para onde foi estudar, tocou com uma banda jazz e um grupo pop.
Em 1971 regressou a Portugal e mudou-se para Lisboa. Participa nesse ano no Festival da Canção com uma música de sua autoria “Flor Sem Tempo” e interpretada por Paulo de Carvalho, obtendo o 2º lugar. No ano seguinte obtém o 1º lugar com o tema “Festa da Vida” na voz de Carlos Mendes. No Eurofestival alcança a melhor classificação portuguesa de sempre com o 7º lugar entre 18 países.
Criou, em parceria, com José Niza, o tema “E Depois do Adeus”, cantado por Paulo de Carvalho que se tornou ainda mais famosa quando foi usada como senha dos militares no 25 de Abril.
Na década de 80, José Calvário mudou-se para Londres onde continuou o seu trabalho. Em 1991, compôs o seu primeiro concerto para orquestra.
O maestro concluiu a sua primeira sinfonia e gravou obras de Andrew Lloyd Webber com a The London Philharmonic Orchestra (Orquestra Filarmónica de Londres).
Ouvido pela Lusa, o cantautor Fernando Tordo afirmou que José Calvário foi “um músico de eleição, um grande talento, um grande orquestrador e excelente compositor”, cuja morte é de “lamentar profundamente”.
Calvário deixa viúva e dois filhos, um dos quais menor.

In: Jornal Digital, 2009-06-18

José Calvário, descansa em Paz!...


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Prémio "Blog Dorado"


“Um Farol chamado Amizade” agradece reconhecido mais este prémio atribuído pela amiga Reggina Moon, do blog “Verso & Prosa” - http://versoeprosapoemas.blogspot.com/

O significado do selo deste prémio:

A cor azul representa paz, profundidade e imensidão.
A cor dourada a sabedoria, a riqueza e a claridade das ideias. O prémio em si representa a união entre os “blogueiros“.

E, como não podia deixar de ser, tem as suas regrinhas:

- Colocar o prémio em situação visível ou linká-lo.

- Anunciar através de um link o blog que o concedeu

- Premiar outros blogs, até 15

- Avisar os respectivos “blogueiros” dos blogs premiados.

Pedindo desculpa à nossa querida amiga Reggina, vamos infringir um pouco as regras quanto à atribuição deste prémio.
Como este prémio representa a união entre os “blogueiros” e como o nosso blog privilegia e fomenta a Amizade, optámos por passar este selinho a todos os nossos seguidores, a quem pedimos que o venham recolher e colocar nos seus respectivos blogs. Esperamos que os nossos seguidores, por sua vez, o passem a outros “blogueiros” e assim estarão a contribuir para a união de toda a blogosfera.

Parabéns a todos os nossos seguidores e a todos os “blogueiros” deste imenso Universo!...

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Sello "Premio Meme"


"Um Farol chamado Amizade" agradecemos este prémio atribuído de la amiga Angelet, del blog “Somos Angeles en la Tierra”

http://somosangelesenlatierra.blogspot.com/

Esta vez es un meme, premio que nos ofrece nuestra amiga Angelet, y tiene las siguientes reglas:

1. -Hay que decir seis cosas que os gusten de vosotros mismos…
2.-Y seis que no os gusten nada de nada de vosotros mismos...
3.- Podéis entregarlo a todos los bloggeros que creáis que merezcan este premio

1. COSAS QUE ME GUSTAN DE MÍ MISMO :

El amor de mi familia
El ser formal, serio, educado y correcto.
Amarme y amar la vida
La sensibilidad y ternura
La fuerza y capacidad para afrontar adversidades
La grandeza de mi corazón


2. COSAS QUE NO ME GUSTAN DE MÍ MISMO :

La desconfianza
Mi ego
Soy cabezota
Orgulloso
Siempre estando en busca de lo mejor (perfección)
Ser a veces radical


Nosotros, Tétis, Argos y Poseidon se lo entregamos a todos los Blogger@s que nos siguen.
Es verdad que es una una forma de conocernos un poco más.
Esperamos ver muchos de nuestros seguidores hacer este Meme.

Muito obrigado, Muchas gracias, Merci beaucoup.

NB : Quién respondio a las preguntas es Poseidon.

sábado, 13 de junho de 2009

13 de Junho - Dia de Santo António

Santo António
(Lisboa, 15-08-1195(?) / Pádua, 13-06-1231)


A capital de Portugal, Lisboa, está repleta de testemunhos de Santo António, o seu santo mais querido e popular. Tudo o que um investigador pode querer saber sobre este português, mais tarde santo, que viveu nos primórdios da nossa nacionalidade, poderá ser encontrado na imensa documentação existente quer em museus, quer em arquivos e bibliotecas. Porém, para a maioria dos lisboetas, que não costumam frequentar estes locais de cultura, o dia 13 de Junho não passa de um agradável feriado em honra de Santo António, cujas comemorações dão lugar à maior festa da cidade.

É o feriado municipal de Lisboa, o Dia de Santo António. As festas em sua honra acontecem por toda a cidade e bairros típicos, como Alfama, Madragoa, Mouraria, Castelo e outros, sobretudo junto à Sé, que são enfeitados com balões e arcos decorativos, fazem-se os tronos de Santo António e realizam-se arraiais populares. As comemorações deste dia e véspera festejam-se comendo caldo verde, sardinhas assadas e bebendo vinho tinto e assiste-se ao desfilar das marchas populares dos diferentes bairros lisboetas.
Os rapazes compram um manjerico (planta aromática) num pequeno vaso, para ofer
ecer à namorada, o qual traz um cravo e uma bandeirinha com uma quadra popular, por vezes brejeira ou jocosa.

Santo António é conhecido como santo casamenteiro, por isso a Câmara Municipal de Lisboa costuma organizar todos os anos neste dia, na sua Sé Patriarcal, o casamento de jovens noivos de origem modesta. São conhecidos por “noivos de Santo António”, recebem ofertas do município e também de diversas empresas, como forma de auxiliar a
nova família.

Convém aqui recordar que, apesar de toda a sua popularidade e de ser Santo António uma das figuras mais importantes da história portuguesa, para a igreja católica é oficialmente São Vicente o santo padroeiro da cidade de Lisboa (São Vicente foi proclamado o santo padroeiro de Lisboa em 1173). Este equívoco religioso, histórico e popular tem as suas raízes nos primórdios da nação portuguesa, na época de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal.

Tanta popularidade, oitocentos e catorze anos depois do seu nascimento e sendo Santo António o padroeiro eleito e aclamado pelo povo de Lisboa, leva-nos a recordar alguns aspectos da vida deste santo, na sua maioria passada entre Lisboa, Coimbra e Pádua.

A história de Santo António é quase da idade da história de Portugal. Oficialmente, o reino de Portugal teve a sua origem em 1139 e Santo António teria nascido no dia 15 de agosto de 1195, pouco mais de cinquenta anos da formação da identidade da nação lusitana.

Desde 1140 que D. Afonso Henriques, o nosso primeiro rei, tentava a conquista de Lisboa aos Mouros, feito que só teve exito sete anos depois, em 1147. Lisboa era pois uma cidade recém-cristã, quando na sua catedral foi a baptizar Fernando Martins de Bulhões, Santo António, filho de uma família de pequena nobreza, da fidalga D. Teresa Tavera, descendente de Fruela, rei das Astúrias e de seu marido Martinho ou Martins de Bulhões. Há dúvidas quanto ao apelido do pai, bem como se era ou não descendentes de cavaleiros celtas. Viviam em casa própria no bairro da Sé quando Fernando de Bulhões nasceu.

Fernando frequentou a escola da Igreja de Santa Maria Maior, hoje a Sé de Lisboa, e até aos 15 anos viveu com os pais e com uma irmã de nome Maria. Entrou nessa idade como noviço para o mosteiro de São Vicente de Fora, pertencente à Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. tendo professado aos 20 anos e aí prosseguido os seus estudos teológicos.

Por volta dos 20 anos vai para o Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, onde é ordenado sacerdote e onde realiza estudos de Direito Canónico, Filosofia e Teologia, graças ao facto de ter à sua disposição a melhor biblioteca monacal do país.

O contacto e a aproximação com os frades mendicantes franciscanos, fazem com que Fernando decida abraçar o espírito de evangelização e trocar a Regra de Santo Agostinho pela Ordem de São Francisco, mudando então o nome para António. Recolhe-se assim no Eremitério dos Olivais de Coimbra.

Em meados de 1220, a chegada com grande pompa religiosa, ao convento de Santa Cruz de Coimbra, das relíquias dos mártires de Marrocos, vai ser decisiva no rumo da vida de Santo António. Sentindo-se chamado a participar na conversão dos chamados infiéis, parte como missionário para Marrocos em acção de evangelização. Porém, acometido de grave doença, teve de embarcar de regresso a Lisboa. Uma forte tempestade arrasta o barco para as costas da Sicília onde António acaba por aportar, num período de grandes conflitos armados entre o Papa Gregório IX e o rei da Sicília.
Em Maio de 1221 os franciscanos reúnem-se em Assis no chamado Capítulo Geral da Ordem, onde Santo António está presente. Em Março de 1222, em Forli, é escolhido para fazer a conferência espiritual, onde disserta para religiosos Franciscanos e Dominicanos de forma tão fluente e admirável que o Provincial da Ordem o destinou de imediato à evangelização e difusão da doutrina. Pelo que se sabe, quando começou a falar imediatamente cativou os outros frades e a sua vida seria a partir daquele dia de pregador da palavra de Cristo. Percorrerá então diversas regiões da actual Itália, entre 1223 e 1225. Por sugestão do próprio São Francisco de Assis vai ser mestre de Teologia em Bolonha, Montpelier e Toulouse.

Em 1226, quando S. Francisco morre, Santo António vai viver para Pádua, onde começará por fazer sermões dominicais, mas as suas palavras tão cheias de alegorias eram de tal modo acessíveis ao povo que cada vez mais se juntava gente nas igrejas para o ouvir. Da igreja passa para os adros e destes para o campo aberto onde chaga a ser escutado por mais de 30 mil pessoas. É um caso raro de popularidade. A multidão segue-o e começa a fama de que faz milagres.

O bispo de Óstia, mais tarde papa com o nome de Alexandre IV, pede-lhe que escreva sermões para os dias das principais festas religiosas que eram já muitas na época. São hoje importantíssimos esses documentos escritos, porque Santo António como pregador escreveu pouco. Muitos escritos são-lhe atribuídos, na sua maioria apócrifos, mas apenas os Sermões Dominicais (“Sermones per Annum Dominicales”, 1227-1228) e Sermões Festivos (“In Festivitatibus Sanctorum Sermones”, 1230) são as únicas obras autênticas escritas pelo punho de Santo António, tendo as marcas da sua espiritualidade e personalidade. São 53 sermões dominicais e 4 para as festividades marianas que se caracterizam por serem mais um manual de pregação do que propriamente sermões ou homilias escritas.

Sentindo-se doente, Santo António pediu que o levassem para Pádua onde queria morrer, mas foi na trajectória, num pequeno convento de Clarissas, em Arcela, que Santo António, no dia 13 de Junho de 1231, “emigrou felizmente para as mansões dos espíritos celestes”. Os seus restos mortais repousam na Basílica de Pádua, construída em sua memória.

Santo António foi solenemente canonizado a 30 de Maio de 1232, por Gregório IX, na catedral de Spoleto, quando ainda não se completara um ano sobre a sua morte, o que é considerado caso único na história da Igreja Católica.

Foi proclamado Doutor da Igreja pelo papa Pio XII, em 1946, que o considerou “exímio teólogo e insigne mestre em matérias de ascética e mística”.

O seu sumptuoso sepulcro em Pádua, em mármore verde, está na igreja de Santo António e é o tributo do povo que o amou, sendo, por isso, muito mais do que um lugar de peregrinação e de oração. Através dos séculos, a sua fama espalhou-se por todos os continentes. No dia 13 de Junho de cada ano, Lisboa e Pádua, comemoram igualmente a passagem por este mundo de um português que pregou a fé, nasceu em Lisboa e morreu em Pádua.

Foi dos mais categorizados representantes da cultura cristã no período de transição da pré-escolástica para a escolástica. Figura notável pela sua erudição, impôs-se também pelo exemplo na pregação solene e doutrinal, na discussão com os hereges e no ensino nas escolas conventuais.
É considerado uma das personalidades franciscanas mais significativas e por muitos católicos um grande taumaturgo, sendo-lhe atribuído um notável número de milagres, desde os primeiros tempos após a sua morte até aos dias de hoje.